Talvez eu tenha escolhido o
jornalismo pela constante novidade que o exercício da profissão permite viver.
Em meio às pautas que já cobri, pude conhecer de presidiários a
desembargadores. É, são pessoas distintas, de classes sociais diferentes e saldos bancários ainda mais
distantes.Enfim...
Uma das minhas pautas foi cobrir
a posse de um desembargador como presidente do Tribunal de Justiça de Sergipe.
A solenidade foi tranquila, discursos eloquentes, calorosos, cheios de emoção, citações
poéticas e até mesmo bíblicas.
Após a solenidade e os
falatórios, uma festa para os convidados animou os presentes. Fiquei
ali a esperar aquele a quem acompanhava. Enquanto ele conversava com as
autoridades presentes, senti-me no direito de me afastar e observar o
comportamento dos convidados. É, talvez em silêncio eu perceba muita coisa.
Algumas senhoras elegantes, bem
vestidas, outras nem tanto. Homens bem alinhados, gravatas devidamente
centralizadas no colarinho, a ocasião exigia zelo nos trajes. Ah, os trajes!
Sentei-me próximo a um casal de idosos, não pude ouvir a conversa, a música
ambiente e a conversa alta não me permitiram ouvir nada além dos meus
pensamentos.
Fiquei ali sentado, olhando os
que iam e os que viam. Entre um petisco e outro, observei a presença de um
senhor que não estava vestido a rigor: camisa polo listrada, calça jeans,
sapato social. Isso até poderia chamar a atenção de muitos, pois a maioria dos
homens vestia terno.
Todavia, não foi isso que mais me
chamou a atenção. Enquanto um garçom servia alguns dos presentes, um grupo de
três ou quatro homens, não lembro ao certo; o senhor dirigiu-se para o garçom,
desejava pegar o petisco que tinha na bandeja. Para a minha surpresa, vi um
gesto negativo do garçom para com o senhor mal vestido para a ocasião. Além do não com a cabeça, deu as costas.
Certo, o garçom estava melhor
vestido que o senhor. Mas, o que justifica tal atitude? Em meio à nobreza de
toga, pude perceber que, além da sociedade, os serviçais também são
pretensiosos.
2 comentários:
É o problema em rotular as coisas e pessoas...Pq de nobre os "nobres" não têm nada!
Muito bom o texto! A sensação de poder, acompanhado de um "pouquinho" de pretenção, desencadeia esse tipo de "cegueira". Esse comportamento deselegante realmente parece contagiar os ocupantes desses ambientes, que para mim, geralmente são tão hostis. Enfim, desabafo de quem se depara com isso diariamente. Beijo.
GB
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