quarta-feira, julho 30, 2008

Consciência


É, estou crescendo, estou amadurecendo.
Mais uma fase do ciclo se fecha, para que outras sejam abertas.
Tenho notado uma serenidade constante na minha essência.
Essa inconstância psciana quase sempre me irrita, mas graças a ela nunca sou o mesmo.
E,não me peça tal proeza, do que adianta ser sempre o mesmo?
A mim, NADA, absolutamente nada.
Vivo, um dia de cada vez e de cada jeito.
Qual seria a graça se todos os dias acontececem as mesmas coisas?
Então, por isso não quero ser o mesmo...
Mudo, mudo constantemente, feito borboleta. Às vezes casulo, outrora larva, do nada beleza.
Em constantes mudanças cresço, e apareço...

terça-feira, julho 22, 2008

Joguinhos psicológicos

Ele: Por que você fica me provocando?
Ela: Eu? -diz mexendo os cachos dos cabelos e cerrando os dentes no lábio inferior.
Ele: Sim, você, não faz essa cara de santa puta não.
Ela: Desses seus adjetivos só não tenho o santa.
Ele: Olha só, será que a máscara cairá?
Ela: Quais máscaras? As que você esconde por traz desse título de mestre? Esconde-se atrás desses óculos...
Ele: Não, não estou falando das minhas, mas das suas.
Ela: Olha, olha, é doce ser assim, não sou puta, nem sou santa.
Ele: Será que não é nem um desses? Duvido que não.
Ela: Seu mestrezinho de merda.
Ele: Não me provoca.
Ela: Provoco sim, seu mes-tre-zi-nho-de-mer-da.
Ele: Só porque se acha emancipada?
Ela: Pois é, meu bem.
Ele: Não me chama de meu bem, não sou bem de ninguém.
Ela: Oh... (diz fitando-o nos olhos, e um sorriso no canto da boca)
Ele: Às vezes você provoca minha ira.
Ela: Só às vezes? Queria que fosse sempre - Solta uma gargalhada.
Ele: Estou perdendo minha paciência. (Coça a cabeça)
Ela: Ai como você é lento!!! Até para perder a paciência...
Ele: O que queres dizer com isso?!
Ela: Está vendo?
Ele: Anda, diz logo.
Ela: Nada não, existem coisas que se dizem em silêncio.
Ele: Não estou compreendendo!
Ela: LENTO. (diz furiosa)
Ele: Seja clara, objetiva.
Ela: Vou te beijar...
Ele: Então beija!

domingo, julho 20, 2008

Maria do Socorro



Chegou em casa exausta, o dia no prostíbulo fora cansativo por demais. Cinco clientes em um só dia significa muita coisa para uma pobre puta iniciante. Significava muito para a exaustão física, mas para a reputação, causava inveja, já que era uma das mais desejosas. Seus traços angelicais foram escondidos, cortaram seus cabelos, e ensinaram-lhe a carregar na maquilagem. Clientes não gostam de putas com cara de filhinhas...
Essa era a rotina de Maria do Socorro, coitada dela, como pode ter um nome desses e não ser capaz de socorrer a própria vida? Acontece, coisas da vida. Recebeu uma nova identidade, desde o dia que entrou no prostíbulo, Sheilla, assim passou a ser chamada, Maria do Socorro morrera em parte.
Era depressivo para Maria do Socorro, deitar-se todo dia com vários homens, sentia-se suja, imunda. Todos os dias, lavava-se no banheiro, e deitava-se no chão do chuveiro em posição fetal, para ela, ali seria seu renascimento, renascia todos os dias, durante 789 dias.
Até que, Maria do Socorro está prestes a ser socorrida, o melhor cliente do bordeu se apaixona por Sheilla.
Mas como poderia, a cafetina odiaria isso, sua melhor puta, ser roubada dela? E seus lucros? Aonde iriam?
O melhor cliente da casa, o Joaquim, um português bem sucedido, mas não era daqueles portugueses, velhos, barrigudos, com um bigode nojento não. Era um homem robusto, olhos claros, com um brilho diferente, seus olhos de nunca mais deixava Maria do Socorro balançada, já que Sheilla não se permitia gostar de alguém, não permitia sentimentalidades.
O Joaquim , passou a visitá-la todos os dias, às 16 horas, cliente fiel, mas o pobre se apaixonara, nunca se deitara com uma dama tão doce e tão fogosa ao mesmo tempo. Estava decidido, queria ela pra ele, e teria. Faria qualquer coisa.
Num dia, que nao sei citar ao certo, numa dessas idas ao encontro de Sheilla, deixou uma carta. O que estaria escrito ali? Sheilla esperou o expediente, se é que podemos chamar expediente e de trabalho uma coisa que marginaliza a humanidade de qualquer ser, e foi embora para casa.
Foi atonita, mas hesitou em abrir o envelope no meio do caminho. Queria apreciar cada palavra escrita para ela. Nunca acontecera isto antes.
Entra correndo, no seu quarto alugado na periferia da cidade,se joga na cama, abre o envelope e tira o papel.
Neste instante suas mãos tremem, seu coração paupita.
Cheirou o papel devotadamente, o cheiro do Joaquim se fazia presente.
Começou a ler: " Minha doce e queria Sheilla, (neste momento ela preferia ser a Maria do Socorro - pensa) foram tantas as vezes que quis tê-la, passei a visitá-la com frequência na esperança de comprar seu amor. Mas isso não se compra, não se vende, apenas sei que você conquistou a mim, não vejo prazer em outra mulher. Quero meus dias ao teu lado.
Daria o que fosse preciso, pra ficar ao teu lado. Joaquim."
Um disfarçada lágrima se faz notar, era a primeira vez que lera aquelas sentimentalidades.




sábado, julho 19, 2008

doçura de ser


Será que é doce ser? Às vezes, a doçura de sermos quem somos amargura a vida de outrem.
Mas o que há de se fazer com as nossas verdades? O que nos importa se não estão preparados para aceitar-nos doce como somos?!
Não sei, mas no fundo nossa doçura intíma desagrada, mas não a nada melhor que o tempo para transformar a amargura em doçura, o repúdio em desejo!
Não tenho pretensão de ser adorado por todos,mas exijo que minha doçura seja respeitada.
E, quando sabemos que os mais próximos sabem da nossa doçura e nos aceitam doces, ficamos raidantes.
As cores ganham sabores. E, as doçuras, transformam-se em gostosuras...

Estava tenso, era a primeira vez que dormira com um homem. Dormir no sentido verdadeiro da palavra, fechar os olhos e entrar em repouso do lado de alguém, aliás, era a primeira vez que dormira com alguém, já que com mulheres nunca dormira também.
Passavam muitas coisas pela sua cabeça, não sei explicar o que se passava, mas seus tabús quebravam-se ali...
Depois de alguns meses de namoro, Breno resolve convidar Pedro para dormir na casa dele, seus pais viajavam nesse dia, a casa estava livre para o amor deles.
Mas a ausência dos seus pais não atiçou desejos lascivos, ao contrário, desejos castos se manifestaram de tal forma, que queriam apenas dormir.
Pedro sai de casa, avisa que dormiria na casa de um amigo da faculdade, essa desculpa sempre funciona.
Enquanto isso, Breno preparava tudo para os dois. Fez brigadeiro de panela, do jeito que o amado gosta, preparou tudo, comprou Margaridas e colocou sobre o criado mudo. Estava ansioso, nunca dormira com o seu Pedrinho. Essa era "a oportunidade".
Tudo pronto, desculpa dadas aos pais, Pedro sai de casa ao encontro do seu princípe.

Chega à casa de Breno, toca a campanhia, e espera, com um sorriso nos lábios, que a porta seja aberta. Breno, abre a porta, e não pensa duas vezes, agarra seu amado, e o arrasta para dentro de casa, como em passo de dança coreografado, pé ante pé, sobem as escadas que dá acesso ao quarto agarrados.
Abrem a porta do quarto juntos. A cama estava arrumada de um jeito todo especial, forrada com lençóis brancos, travesseiros, trazia à tona desejos puros, castos de ambos.
Abraçaram-se de forma afetuosa, se deitaram, e olhando para o teto, conversavam sobre o futuro.

sexta-feira, julho 18, 2008

Aconchego


Thiago chega em casa correndo, o vento balança os cabelos lisos e compridos. Atravessa a sala vai direto para seu quarto. O celular toca.
-Oi - atende com um sorriso largo e olhos cintilantes.
-Sim, sim, claro que vou, não sabe o quanto quero isso.
- No nosso aconchego, não é?
Desliga o celular, cai em gargalhadas em cima da cama, logo em seguida entra no banho.
A cada gota d'água que molhava seu corpo um pensamento bom invadia sua mente: "É hoje, espero há tanto tempo por isso..."
Faz do seu banho um ritual, com os olhos fechados, cabeça para cima, deixa que sua face seja lavada, como se deixasse a máscara ser descorbeta. A cada centímetro explorado pelo sabonete, imaginava o toque da pessoa amada, num êxtase incomum.
Algo muito bom estava por acontecer...
Depois do seu ritual, pega a mochila, põe uma troca de roupa, e sai...
Com os cabelos ao vento, nesse instante, ele sentia-se bem, bem com ele e com o mundo. Nada como um alimento para alma. Mas o que seria esse alimento?
Apenas sei, que ele estava bem, e isso basta.
A dois quarteirões de sua casa tem um parque, era o local do aconchego.
A cada passo dado, em busca do paraíso construído, a vida com o ser amado passava por sua mente: desde o primeiro olhar, na sala da universidade, o primeiro beijo embaixo da árvore adotada, até a primeira transa num dia de verão no quarto dos pais...
Enfim, andava e suspirava... o ar que entrava nas narinas fazia-se feito entorpecente.
Avista a entrada do parque, lá estava Bruno.
Com os braços abertos, enquanto Tiago corre ao seu encontro, Bruno espera o seu menino.
De repente, como se fosse um filme em câmera lenta, seus braços se entrelaçam. "O mundo gira devagar.E ninguém registra a cena."
Braços entrelaçados, saem correndo por entre as árvores, e encotram o ninho, marcado com as iniciais de ambos.
Trocam olhares intensos, palavras amorosas, carinhos afetuosos, e em forma de conchas, fazem das suas partes apenas um. Um aconchego, um aconchego apenas!






Era uma vez, um adolescente gay...

Era uma vez, um adolescente gay...
Lucas, um menino tímido. Sempre foi o melhor aluno da sala. Era o exemplo da turma, as melhores notas, os melhores comentários, essa era a forma que Lucas encontrava de ser aceito. Se destacar...
Mas e aquela história de que prego que se destaca leva martelada? É, provaram pro coitado do Lucas que isso era verdade, uma vez quando ele chega na sala, estava escrito na parede amarela da escola pública onde estudava: LUCAS É VIADO!!! Foi a frase mais dolorida lida em toda sua vida, logo ele que sentia tanto prazer com as palavras?! Por que com ele?
Lucas tentava entender o por quê de zombarem tanto das suas diferenças, mas não encontrava respostas satisfatórias.
Mas uma coisa era fato, tinha a certeza de que iria longe, que não se limitaria feito aquele bando de acéfalos. O mundo te esperava.
Cansado de tanta humilhação, resolve mudar.
A partir de então, tornou-se um menino solitário...
Troca poucas palavras, vive no seu mundo, isolou-se da realidade.
Alimenta sua fantasia lendo horas à fio, até que...
Até que, perde o contato com todos os 'amigos', se é que podemos chamar de amigos esses seres que expõem ao rídiculos a fragilidade humana.
Mais decidido que nunca, sai da cidade, entra na faculdade. O mundo abre novas portas.
Hoje? Como ele vive hoje? Ele não se importa mais, se acham que ele é gay ou não, ele vive, apenas vive e isso é suficiente para ele.
Voltou a ser o melhor aluno da turma, ganhou o apreço e a simpatia dos professores, e quanto a ser discriminado, aprendeu a se defender muito bem.

Auto-retrato

O menino não via
O moço que lhe sorria
e nem olhava
a moça que lhe chorava

E assim vivia,
atenção não prestava
a quem lhe observava.

quinta-feira, julho 17, 2008

Ao meu amigo David Muniz


Um diálogo entre dois amigos...

- Você me empresta sua força?
- Sim, empresto, mas com uma condição...
- Qual?
- Você me empresta sua sensibilidade?!

quarta-feira, julho 16, 2008

" Pra cada braço uma força..."

" Pra cada braço uma força..."

Pois é, eu bem sei o que isso quer dizer, para cada braço uma força, a força do peso de ser autêntico...
O peso de ser diferente...
O peso de fugir da padronização...
O peso de ser incomum...
O peso de fugir da maioria...
O peso de pertencer a minoria...
O peso do medo de não ser aceito...
O peso dos olhares tortos...
O peso da discriminção...
Mas, posso com a força que tenho, e não tem nada melhor que sustente tudo isso que o amor próprio, e esse, em mim, é incondicional.