Chegou em casa exausta, o dia no prostíbulo fora cansativo por demais. Cinco clientes em um só dia significa muita coisa para uma pobre puta iniciante. Significava muito para a exaustão física, mas para a reputação, causava inveja, já que era uma das mais desejosas. Seus traços angelicais foram escondidos, cortaram seus cabelos, e ensinaram-lhe a carregar na maquilagem. Clientes não gostam de putas com cara de filhinhas...
Essa era a rotina de Maria do Socorro, coitada dela, como pode ter um nome desses e não ser capaz de socorrer a própria vida? Acontece, coisas da vida. Recebeu uma nova identidade, desde o dia que entrou no prostíbulo, Sheilla, assim passou a ser chamada, Maria do Socorro morrera em parte.
Era depressivo para Maria do Socorro, deitar-se todo dia com vários homens, sentia-se suja, imunda. Todos os dias, lavava-se no banheiro, e deitava-se no chão do chuveiro em posição fetal, para ela, ali seria seu renascimento, renascia todos os dias, durante 789 dias.
Até que, Maria do Socorro está prestes a ser socorrida, o melhor cliente do bordeu se apaixona por Sheilla.
Mas como poderia, a cafetina odiaria isso, sua melhor puta, ser roubada dela? E seus lucros? Aonde iriam?
O melhor cliente da casa, o Joaquim, um português bem sucedido, mas não era daqueles portugueses, velhos, barrigudos, com um bigode nojento não. Era um homem robusto, olhos claros, com um brilho diferente, seus olhos de nunca mais deixava Maria do Socorro balançada, já que Sheilla não se permitia gostar de alguém, não permitia sentimentalidades.
O Joaquim , passou a visitá-la todos os dias, às 16 horas, cliente fiel, mas o pobre se apaixonara, nunca se deitara com uma dama tão doce e tão fogosa ao mesmo tempo. Estava decidido, queria ela pra ele, e teria. Faria qualquer coisa.
Num dia, que nao sei citar ao certo, numa dessas idas ao encontro de Sheilla, deixou uma carta. O que estaria escrito ali? Sheilla esperou o expediente, se é que podemos chamar expediente e de trabalho uma coisa que marginaliza a humanidade de qualquer ser, e foi embora para casa.
Foi atonita, mas hesitou em abrir o envelope no meio do caminho. Queria apreciar cada palavra escrita para ela. Nunca acontecera isto antes.
Entra correndo, no seu quarto alugado na periferia da cidade,se joga na cama, abre o envelope e tira o papel.
Neste instante suas mãos tremem, seu coração paupita.
Cheirou o papel devotadamente, o cheiro do Joaquim se fazia presente.
Começou a ler: " Minha doce e queria Sheilla, (neste momento ela preferia ser a Maria do Socorro - pensa) foram tantas as vezes que quis tê-la, passei a visitá-la com frequência na esperança de comprar seu amor. Mas isso não se compra, não se vende, apenas sei que você conquistou a mim, não vejo prazer em outra mulher. Quero meus dias ao teu lado.
Daria o que fosse preciso, pra ficar ao teu lado. Joaquim."
Um disfarçada lágrima se faz notar, era a primeira vez que lera aquelas sentimentalidades.