domingo, maio 25, 2008

Célula

Hoje tive uma sensação estranha, pareceu que tinha perdido uma parte de mim.
Depois do efeito alucinogéno do álcool, acabei pedindo a alguém para guardar meu bichinho.
Só teve um problema: eu não lembrei a quem eu o dei!.
Quando acordei percebi que ele não estava do meu lado, levantei da cama desesperado, revirei todos os lençóis, levantei o colchão, olhei embaixo da cama e nada dele. Foi horrível, uma sensação de perda tremenda.
O carinho que eu nutria por ele se revelara de uma forma que fui surpreendido, nem pensei duas vezes, tomei um banho rápido, e fui a casa de uma amiga:
"-Flor você ficou com meu bichinho?!"
"-Não."
Eu jurava que alguém o tinha escondido para me deixar maluco, todos os meus amigos sabem o quanto eu gosto do meu pedacinho de mim.
Fui a casa de um, a casa de outro e nada.
E numa manhã ensolarada de domingo, eu triste.
Falei para todos o quanto o amava e que por descuido de um prazer que não costumo ter o deixei se perder de mim...
Uma parte de mim se perdera.
Já com minhas esperanças cessadas, fiz a última tentativa.
Fui a casa do meu amigo.
"Kieds, você viu meu bichinho?!"
Ele sorriu, pegou meu pedacinho de mim e me devolveu.
Meus olhos brilharam quando eu o vi, tava mais lindo do que nunca.
Meu celular, minha célula preferida!

sábado, maio 24, 2008

Amelie III

Amelie ficou três dias e três noites desacordada.
Durante esse tempo ela fez uma viagem sob comando do seu (in)consciente, algumas imagens confusas se formaram em sua mente:
Um dia de sábado, sua mãe sai de casa e a deixa acompanhada do padrasto alcolátra.
Amelie não sabia o que o destino reservava para ela, uma jovem menina de doze anos, muito jovem, nem peitinho tinha direito.
Amelie brincava com Rebeca(sua boneca de pano) em seu quarto, quando de repente aquele homem asqueroso, entra com seu cheiro de pinga barata, e a toma em seus braços e joga na cama,
invande o seu sexo sem nenhum pudor, os lençóis da sua cama são lavados pelo sangue puro de uma menina virginal. Amelie chorava compulsivamente, tentando conter as lágrimas com as mãos postas feito duas conchas.
Quando sua mãe chegou Amelie estava no canto do quarto agachada, com os joelhos dobrados e as mãos prendendo-os, sua mãe ficou confusa. Perguntou o que tinha acontecido, Amelie apenas mostrou os lençóis sujos.
Num gesto desesperado, sua mãe vai à cozinha, pega a peixeira, e num golpe único, rompe o fio da vida do desgraçado do marido que dormia no chão da sala.
Desde então Amelie, passou a não sorrir, as pessoas ao seu redor nao lhe causavam interesse.
Vivi a par do mundo.
O tempo foi passando e Amelie crescendo, porém sentia nojo de homens.
Com a morte da mãe, teve câncer no colo do últero, aos 40 anos, Amelie passou a morar numa cubículo alugado, paga as contas com a pensão que o pai biológico deixou.
Ela queria encontrar um jeito de se vingar, a única forma que achou foi seduzí-los e nunca levá-los para a cama.
Usa adornos lascivos, mas nunca se deita com ninguém.
Com uns pingos caindo na testa ferida, Amelie disperta, levanta, põe a mão por um instante na cabeça dolorida.
Vai em direção à parede ajeita o retrato da mãe e do pai, vai ao banheiro, toma seu banho,
joga sobre si seu vestido de tafetá, e ...



balões 'multicoloridos'

Hoje senti uma saudade enorme do tempo em que queria voar pendurado com balões, saudade da infância, da inocência.
O tempo passa, os valores mudam, as esperanças de alguns aumentam, as de outros cessam.
E hoje, tenho certeza de que não voarei nos meus balões multicoloridos, os quais o vento levava com tamanha facilidade.
É duro acordar para a realidade e viver!
E ter certeza que minha imaginação de menino não me dará tudo.
Enquanto o vento não me leva, viverei, viverei, intensamente, aproveitando cada instante.
E já que ele não poderá me levar pendurado nos meus balões, sentirei-o em minha face, e terei certeza de que vivo e que já que não posso voar, ao menos posso sentí-lo em meu rosto. E ter a certeza de que fui e sou feliz.
Apesar de voar aterrizado!

sexta-feira, maio 16, 2008

Três

Noite de sábado, nada para fazer. Vejo alguns panfletos sobre a mesa da sala, vou procurar o que tem de interessante. Encontro um que me chamou atenção: “Inauguração de um bar”. E lá me vou. Apronto-me rápido, ficar em casa só não é comigo, e saio à procura do bar.
Depois de algumas voltas encontrei o endereço indicado. Entro no recinto, música alta tocando, bebidas, conversas. E eu, mais um desconhecido naquela multidão eufórica. Observo todos, já que cheguei sozinho, não tenho com quem conversar.
De súbito, um olhar azul brilhante, feito o mar iluminado no poente observa a minha presença. Um olhar feminino. Meus olhos fitam aquele olhar, e busco saber o que se esconde por trás dele. Desvio do olhar azul, e observo os detalhes da face delicada da moça: nariz pequeno empinado, lábios carnudos pintados com um batom rosa, e desço mais, pescoço comprido, e continuo minha exploração sem hesitar, decote enviesado, o vestido preto longo marca a cintura fina e esconde suas pernas.
Quando decido voltar a fitar o olhar azul, encontro outro olhar me observando, num jogo inverso, agora eu sou o ser observado, mas o que me intriga é que o olhar que me repara é do acompanhante da moça de olhar azul. E, já que sou espiado, sinto-me no direito de olhar também. Fito os olhos negros que me olham, olho fundo, sem desviar o olhar, e ele me olha também. Como anteriormente, exploro, de longe, já que alguns metros nos separam; cada detalhe. Com suas mãos grandes tira os cabelos negros lisos da face, suas sobrancelhas grossas ficam a mostra por um instante, face larga, quadrada, pele bronzeada, nariz grande afilado, lábios grossos, parece que faz biquinho. E desço, decido ir além, sinto-me no direito, pescoço grosso, trapézio saliente, a camisa branca apertada marca o peitoral definido, calça jeans rente às pernas.
Não sei aonde esse jogo chegará. Enquanto o observo percebo ele conversando com um garçom e dá-lhe um papel. Percebo também ele me olhando de cima a baixo.
Instantes depois o garçom me entrega um bilhete: “ Gostamos de você.” Olho para o papel e olho para eles, e ele faz um sinal com a cabeça mostrando a saída do bar.
Eles saem e eu os acompanho. Chegando na porta ele diz para eu acompanhar o carro deles. Como obediente que sou, acompanho em meu carro.
Chegamos a uma casa um pouco afastada da cidade. Fomos direto para o quarto, nossos olhares desejosos observavam cada detalhe, cada gesto que o outro fazia. Agora, já não mais existe casal, somos três. Tiramos nossas roupas, deixamos os valores, os tabus, de lado. Somos três em essência, despidos dos arquétipos, sem indumentárias.
Amamos-nos por três horas seguidas. O sangue quente corria em nossas veias. No nosso jogo não existia gênero, nada de masculino nem feminino. Amamos-nos, apenas amamos, corpos quentes, nosso suor molha o lençol branco de linho egípcio e lava nosso desejo saciado.
Três corpos ligados por um único desejo, três e um só gozo.

sábado, maio 10, 2008

Hoje acordei com vontade de você...


Hoje acordei com vontade de você...
Depois que partiu meus dias ficaram sem graça, as cores perderam os sabores. Nada me sacia.
Tenho saudade da sua boca pequena na minha.
Tenho sede do seu gosto.
Fome do teu desejo.
Saudade do seu afago.
Foi tudo tão de repente, e de repente você se foi.
E aqui, me deixou.
Triste, tristinho.
Só, sozinho.
Mas não há de ser nada.


Mãos

Mãos que afagam
Mãos que protegem
Mãos que acariciam
Mãos que cuidam
Mãos que mimam
Mãos ternas
Mãos que castigam
Mãos que corrigem
Mãos que ensinam
Mãos que lutam
Mãos Mãos Mãos Mãos
Mãos de Mãe!

sexta-feira, maio 09, 2008

Enquanto o sol não vem

Mais um dia, e a vontade de escrever não cessa, então escrevo, escrevo aleatoriamente, deixo que as palavras inundem meu ser, talvez, sejam elas minha melhor companhia.
Fico só, enquanto minha janela se faz de moldura para o sol entrar e aquecer meus dias. E me escondo nas cores das almofadas, para ver se elas me contagiam com sua alegria, mas mesmo assim, talvez não cesse. E, se não cessar? como ficarei ? Só, somente só. Mas será que há quem se importe com isso?
Tento de tudo para me saciar, mas só uma coisa me completa, minhas interrogações talvez sejam respondidas agora, nesse fluxo contínuo inundo meu ser, e aqueço minha essência, entro em contato com meu íntimo enquanto o sol entra pela janela e ilumina meu ser e me traz a vontade de ser como ele... Sozinho, porém radiante, e às vezes se esconde para a lua também brilhar, e ele vai embora para outro lugar iluminar, a solidão dele não é egoísta, ele brilha para todos, mas talvez poucos apreciem sua presença,nunca fui muito seu fã, mas agora me assemelho a ele. Não que eu seja egoísta e queira todos girando ao meu redor, mas talvez eu brilhe sozinho. Longe de mim ser prepotente, apenas serei como o sol.
Palavras,Palavras,Palavras,Palavras,Palavras,Palavras, tantas palavras aprendemos, elas aqui me saciam, enchem-me de vida, por isso escrevo, escrevo porque preciso viver.
Escondo-me nas cores, nas palavras, encho-me de vida.
E no céu? O Sol.


Só lhe dão - solidão


Muitas coisas acontecendo, sei lá, me veio a necessidade de escrever algo, mas não algo fictício. Algo real, então por que não falar do protagonista da minha vida?! EU!!! Mas,não sei se serei um assunto tão interessante para a sua leitura.
Talvez, não seja um texto qualquer, seja um texto desabafo. Um convite à penetração do meu âmago, Isso mesmo no meu âmago, estou enamorado por dicionários, palavras difíceis. Sim, estou estudando o Aurélio.rsrs Mas isso não vem ao caso agora...
Sinto-me só. Mas não é uma solidão de Amor, é uma solidão de amigos.
Os dias estão cada vez mais vazios, passo o dia todo vendo as paredes frias do meu quarto, e nem uma, nem uma sequer, alma vivente além de mim que me possa fazer companhia.
Acredito que eu esteja entrando em contato com as minhas profundezas, eu! Que não gosto de ser superficial, mas também não queria ir tão fundo.
Não sei, meu dias estão cada vez mais gélidos, sem graça.
Só as palavras me saciam. Por isso que te escrevo agora, para saciar, saciar meu eu, saciar minha solidão.
Solidão, só lhe dão, então.
Talvez esta só seja opção, ou talvez imposição, só lhe dão. Deram-me ou eu escolhi não sei, apenas sei que estou só, sozinho, mais sem graça que pão com o ovo.
O vazio agora toma conta, já que aliviei com palavras, então, deixar-te-ei, isso mesmo na norma mais culta da lígua, deixar-te-ei em paz.