quarta-feira, julho 18, 2012

Em meio à nobreza de toga



Talvez eu tenha escolhido o jornalismo pela constante novidade que o exercício da profissão permite viver. Em meio às pautas que já cobri, pude conhecer de presidiários a desembargadores. É, são pessoas distintas, de classes sociais diferentes  e saldos bancários ainda mais distantes.Enfim...

Uma das minhas pautas foi cobrir a posse de um desembargador como presidente do Tribunal de Justiça de Sergipe. A solenidade foi tranquila, discursos eloquentes, calorosos, cheios de emoção, citações poéticas e até mesmo bíblicas.

Após a solenidade e os falatórios, uma festa para os convidados animou os presentes. Fiquei ali a esperar aquele a quem acompanhava. Enquanto ele conversava com as autoridades presentes, senti-me no direito de me afastar e observar o comportamento dos convidados. É, talvez em silêncio eu perceba muita coisa.

Algumas senhoras elegantes, bem vestidas, outras nem tanto. Homens bem alinhados, gravatas devidamente centralizadas no colarinho, a ocasião exigia zelo nos trajes. Ah, os trajes! Sentei-me próximo a um casal de idosos, não pude ouvir a conversa, a música ambiente e a conversa alta não me permitiram ouvir nada além dos meus pensamentos.

Fiquei ali sentado, olhando os que iam e os que viam. Entre um petisco e outro, observei a presença de um senhor que não estava vestido a rigor: camisa polo listrada, calça jeans, sapato social. Isso até poderia chamar a atenção de muitos, pois a maioria dos homens vestia terno.

Todavia, não foi isso que mais me chamou a atenção. Enquanto um garçom servia alguns dos presentes, um grupo de três ou quatro homens, não lembro ao certo; o senhor dirigiu-se para o garçom, desejava pegar o petisco que tinha na bandeja. Para a minha surpresa, vi um gesto negativo do garçom para com o senhor mal vestido para a ocasião. Além do não com a cabeça, deu as costas.

Certo, o garçom estava melhor vestido que o senhor. Mas, o que justifica tal atitude? Em meio à nobreza de toga, pude perceber que, além da sociedade, os serviçais também são pretensiosos.



domingo, maio 13, 2012

Uma Fábula


Eu estava ali. Ele tinha me visto no dia anterior. Eu estava fora do meu hábitat, ele também. Passou, olhou-me várias vezes e eu estava ali, observando também, no fundo pensava: “Ele deveria me levar para casa”. Não aconteceu. Olhou à minha volta, e para quem estava ao meu redor, fez menção de levar, não a mim, mas também não levou. Continuei o dia a esperar que ele ou outro alguém me levasse. Para onde? Não sei. Queria sair daquele lugar frio, falo frio de calor humano, de afeto, eu era apenas uma beleza exposta.

As horas passaram, o dia dormiu, a noite acordou, a lua dormiu, o sol despertou, e ninguém me levou. Mas, no fundo há a esperança. Continuei a esperar, como sempre. Desde que era um broto, viviam me transportando, de um lado para outro. Cresci, e tive de sair do afeto, se é que um dia o tive. Mas, confesso que a sensação de estar prestes a ir em um lar, deixava-me com ânsia.

Enfim, ele voltou e fez tudo da maneira que fez no dia anterior. Olhou para quem estava ao meu redor. Beleza, muita beleza, me rodeava. Porém, ele optou por mim. Eu teria algum motivo especial? Não sei.
Pôs-me em seus braços como se acalantasse um infante. Deixamos o local, nem deu tempo despedir-me de quem me acompanhava.  Entrou em um carro, pôs-me no colo, e disse o destino ao motorista. Ele me olhava com ternura e tocava algumas partes do meu frágil corpo para saber se estava tudo bem, senti amor pela primeira vez, seria amor mesmo?

Chegamos ao destino, não sei especificar onde, jamais havia entrado em carros abertos, janelas? Nem pensar. Senti o vento me tocar, isso era bom. Por onde passávamos todos olhavam. O que eu ou ele teria de especial?

Entramos em um transporte maior que o anterior. Mas a admiração de quem nos olhava era a mesma em todos os lugares antes explorados. Comecei a pensar se realmente eu seria especial. Seria?

Ele optou ficar na janela. Luz, vento, era o que precisava, mas o cuidado de o vento não me fazer mal ele teve. 98 km eram o que nos esperava. Um destino certo? Talvez. Chegamos em uma pequena cidade, percebi isso pelo pouco tumulto no ambiente que ele desceu. Passamos por uma rua estreita. Enfim, uma casa com pedras rústicas na fachada nos esperava. Foi quando ouvi de alguém: “Nossa, quanta beleza...”, sorri, ter a admiração de outrem faz bem. Seria eu egoísta? Talvez.

“Oi, cheguei”, disse ele. Alguém o esperava. Ele sorriu, ela sorriu também. “Trouxe para você, não teria como esconder até amanhã”, ele completou. “Nossa que lindo”, ouvi e sorri. E, tive a certeza, que agora sou uma flor feliz.



sábado, maio 12, 2012

Sobre o dia das mães

Amanhã é dia das mães,e costumamos usar desses subterfúgios comerciais para dizer o que deveríamos dizer todos os dias. Quem me conhece sabe da dificuldade que tenho em demonstrar certos sentimentos, seja com quem for. O tempo passa, nós crescemos e percebemos,também, que não devemos nos envergonhar por um sentimento, por uma emoção. 
Já sorrimos juntos inúmeras vezes, mas quando foi preciso também choramos juntos. Alguns silêncios confessores. Algumas palavras agressivas. Sentimentos, mas jamais nos afastamos. E, quando papai do céu me pôs no ventre da mulher que me gerou, e me amou sem mesmo conhecer minha face, ele tinha um propósito. Não tenho dúvida disso. A saída de casa ainda jovenzinho, o retorno ao lar, a readaptação ao próprio lar, a hora de o passarinho sair do ninho mais uma vez, entre outras passagens, só fizeram ter ainda mais certeza, da dúvida que nunca tive, que o meu amor por esta mulher é incondicional. Os mais próximos sabem como meus olhos brilham quando falo do orgulho que tenho de ser filho, ser amigo, e do amor que sinto.
Sempre esteve presente, às vezes que não falou com a voz, falou com os olhos; tanto para aprovar ou reprovar um comportamento.
A mulher que me ensinou a ser o bom menino, mesmo sendo obrigada a ir ao colégio dar uns cascudos. A mulher que me ensinou a honestidade em um dia que peguei dinheiro escondido para comprar doces. A mulher que me ensinou a caridade em um dia que prometemos juntos compartilhar uma vez ao ano nossa mesa com os mais necessitados. A mulher que me ensinou a humildade ao pegar na minha mão ao me ensinar as primeiras letras. Ah, as letras... A mulher que me inspirou o gosto pelos estudos com seu vício de comprar livros (mesmo os didáticos). 
A mulher que me ensinou a ser nobre. A mulher que, com o exemplo, ensinou-me a romper barreiras. A mulher que puxou a orelha na hora que precisava, mas que também mostra orgulhosa aos amigos os frutos dos meus primeiros trabalhos. A mulher em que eu penso quando preciso tomar uma decisão importante e o celular toca, mesmo sem saber, para me orientar. Enfim, a mulher que me fez vir a vida, e a quem serei eternamente grato. 
Talvez, o restinho de inocência que ainda guardo seja reflexo de toda educação que tive. 
Às vezes, é inevitável quebrar o clichê. Amo-te, Mãe.
 


domingo, março 25, 2012

Sobre as possibilidades

Ele:Você é um menino raro. E tanto de raro quanto de menino,
talvez,se tivesse nascido dez anos antes...
Eu: Teria o que?
Ele: Não teria, seria
Eu:O que?
Ele: Não seria, haveria
Eu:E, se houvesse de ser? Fiquei sem entender.
Ele:Viver ultrapassa todo entendimento. CL
Eu: Mas, não respondeu a lacuna
Ele:A intenção é não responder mesmo.
Eu:Eu sei, mas meu espírito jornalista gosta de respostas.
Ele:Mas quem te dá asas é a sua imaginação literária...E, eu ,sinceramente, prefiro a cera das asas ao barro dos pés...

domingo, fevereiro 26, 2012

Retalhos de alguma poesia

(Foto:divulgação)
Prefiro o silêncio que confessa, o olhar que denuncia, à palavras que mentem.

Os olhos falam?


Nas andanças da vida nos deparamos com a diversidade. De cores, sabores, e olhares. Ah! Olhares! 
Quem nunca olhou nos olhos de um ser desconhecido na rua? Os poetas dizem que os olhos são as janelas da alma. Talvez seja um clichê barato que não conseguimos quebrar. Mas, não é de clichês que quero falar.
Puxados, pequenos, amendoados, salientes, profundos, negros, cinzentos, castanhos, azuis, esverdeados, são olhos. Olhares que cruzam os nossos diariamente, alguns passam despercebidos; outros nos fitam e até nos sequestram por instantes. 
Na rotina diária não temos tempo de pararmos e analisarmos: "Que história de vida esses olhos trazem?". Eu acreditava nisso até que, um dia me disseram: "Você tem olhos tristes", "Eu vejo poesia em seus olhos","Ah, você é poeta, tem olhos puros","Que olhar desconfiado","Olhar 'pidão'", "Olhar solitário...".
E, desde então, tomei como exercício de alteridade: olhar no olho do outro. 

Os olhos podem falar? Os meus são alegres, são tristes,e até sorriem, afinal, tenho olhos de poeta.
Deles faço poesia e até consigo passar alegria.



domingo, fevereiro 19, 2012

Sobre as possibildades

Viver de possibilidades foi o tema de uma conversa com um amigo. Papo tenso. Sabe quando duas pessoas tem opiniões totalmente distintas e querem a todo custo convencer a outra do seu pensamento? Foi assim!
Sou abordado com a pergunta: " Você já pensou em morrer?", titubeei antes de responder mas soltei um sonoro  NÃO. Questionei o porquê da pergunta.
Surpreendi-me com a resposta: "É, bateu uma tristeza, uma saudade, ter que voltar."
E, "por que pensou em morrer?", perguntei.
"Não pensei em  morrer, mas é que bateu a solidão", foi a resposta que recebi.
Ficamos horas conversando sobre o modo de vida que esse amigo optou viver. Que por um instante, em algum momento da minha vida, também pensei viver.
Senti uma certa dúvida da parte dele. Mas não interferi. Deixei-me seduzir. E, ficamos algumas horas tentando convencermo-nos de que estávamos certos sobre nossos pensamentos. Um embate de pensamentos dissonantes, permita-me a sonoridade da frase.
Não o convenci das minhas 'verdades' porque ele fugiu. Prefere a dúvida, talvez. Uma possibilidade.
Depois do papo, vi-me  a devanear. E cheguei as seguintes conclusões:
A vida é uma certeza. A morte é uma certeza.

Morrer amanhã é uma possibilidade que prefiro não pensar.
Sexo é  certeza. O amor é certeza.
Fazer sexo com amor é possibilidade.
E entre as certezas e as possibilidades? Tenho a certeza do instante que existe.