sexta-feira, maio 16, 2008

Três

Noite de sábado, nada para fazer. Vejo alguns panfletos sobre a mesa da sala, vou procurar o que tem de interessante. Encontro um que me chamou atenção: “Inauguração de um bar”. E lá me vou. Apronto-me rápido, ficar em casa só não é comigo, e saio à procura do bar.
Depois de algumas voltas encontrei o endereço indicado. Entro no recinto, música alta tocando, bebidas, conversas. E eu, mais um desconhecido naquela multidão eufórica. Observo todos, já que cheguei sozinho, não tenho com quem conversar.
De súbito, um olhar azul brilhante, feito o mar iluminado no poente observa a minha presença. Um olhar feminino. Meus olhos fitam aquele olhar, e busco saber o que se esconde por trás dele. Desvio do olhar azul, e observo os detalhes da face delicada da moça: nariz pequeno empinado, lábios carnudos pintados com um batom rosa, e desço mais, pescoço comprido, e continuo minha exploração sem hesitar, decote enviesado, o vestido preto longo marca a cintura fina e esconde suas pernas.
Quando decido voltar a fitar o olhar azul, encontro outro olhar me observando, num jogo inverso, agora eu sou o ser observado, mas o que me intriga é que o olhar que me repara é do acompanhante da moça de olhar azul. E, já que sou espiado, sinto-me no direito de olhar também. Fito os olhos negros que me olham, olho fundo, sem desviar o olhar, e ele me olha também. Como anteriormente, exploro, de longe, já que alguns metros nos separam; cada detalhe. Com suas mãos grandes tira os cabelos negros lisos da face, suas sobrancelhas grossas ficam a mostra por um instante, face larga, quadrada, pele bronzeada, nariz grande afilado, lábios grossos, parece que faz biquinho. E desço, decido ir além, sinto-me no direito, pescoço grosso, trapézio saliente, a camisa branca apertada marca o peitoral definido, calça jeans rente às pernas.
Não sei aonde esse jogo chegará. Enquanto o observo percebo ele conversando com um garçom e dá-lhe um papel. Percebo também ele me olhando de cima a baixo.
Instantes depois o garçom me entrega um bilhete: “ Gostamos de você.” Olho para o papel e olho para eles, e ele faz um sinal com a cabeça mostrando a saída do bar.
Eles saem e eu os acompanho. Chegando na porta ele diz para eu acompanhar o carro deles. Como obediente que sou, acompanho em meu carro.
Chegamos a uma casa um pouco afastada da cidade. Fomos direto para o quarto, nossos olhares desejosos observavam cada detalhe, cada gesto que o outro fazia. Agora, já não mais existe casal, somos três. Tiramos nossas roupas, deixamos os valores, os tabus, de lado. Somos três em essência, despidos dos arquétipos, sem indumentárias.
Amamos-nos por três horas seguidas. O sangue quente corria em nossas veias. No nosso jogo não existia gênero, nada de masculino nem feminino. Amamos-nos, apenas amamos, corpos quentes, nosso suor molha o lençol branco de linho egípcio e lava nosso desejo saciado.
Três corpos ligados por um único desejo, três e um só gozo.