domingo, maio 13, 2012

Uma Fábula


Eu estava ali. Ele tinha me visto no dia anterior. Eu estava fora do meu hábitat, ele também. Passou, olhou-me várias vezes e eu estava ali, observando também, no fundo pensava: “Ele deveria me levar para casa”. Não aconteceu. Olhou à minha volta, e para quem estava ao meu redor, fez menção de levar, não a mim, mas também não levou. Continuei o dia a esperar que ele ou outro alguém me levasse. Para onde? Não sei. Queria sair daquele lugar frio, falo frio de calor humano, de afeto, eu era apenas uma beleza exposta.

As horas passaram, o dia dormiu, a noite acordou, a lua dormiu, o sol despertou, e ninguém me levou. Mas, no fundo há a esperança. Continuei a esperar, como sempre. Desde que era um broto, viviam me transportando, de um lado para outro. Cresci, e tive de sair do afeto, se é que um dia o tive. Mas, confesso que a sensação de estar prestes a ir em um lar, deixava-me com ânsia.

Enfim, ele voltou e fez tudo da maneira que fez no dia anterior. Olhou para quem estava ao meu redor. Beleza, muita beleza, me rodeava. Porém, ele optou por mim. Eu teria algum motivo especial? Não sei.
Pôs-me em seus braços como se acalantasse um infante. Deixamos o local, nem deu tempo despedir-me de quem me acompanhava.  Entrou em um carro, pôs-me no colo, e disse o destino ao motorista. Ele me olhava com ternura e tocava algumas partes do meu frágil corpo para saber se estava tudo bem, senti amor pela primeira vez, seria amor mesmo?

Chegamos ao destino, não sei especificar onde, jamais havia entrado em carros abertos, janelas? Nem pensar. Senti o vento me tocar, isso era bom. Por onde passávamos todos olhavam. O que eu ou ele teria de especial?

Entramos em um transporte maior que o anterior. Mas a admiração de quem nos olhava era a mesma em todos os lugares antes explorados. Comecei a pensar se realmente eu seria especial. Seria?

Ele optou ficar na janela. Luz, vento, era o que precisava, mas o cuidado de o vento não me fazer mal ele teve. 98 km eram o que nos esperava. Um destino certo? Talvez. Chegamos em uma pequena cidade, percebi isso pelo pouco tumulto no ambiente que ele desceu. Passamos por uma rua estreita. Enfim, uma casa com pedras rústicas na fachada nos esperava. Foi quando ouvi de alguém: “Nossa, quanta beleza...”, sorri, ter a admiração de outrem faz bem. Seria eu egoísta? Talvez.

“Oi, cheguei”, disse ele. Alguém o esperava. Ele sorriu, ela sorriu também. “Trouxe para você, não teria como esconder até amanhã”, ele completou. “Nossa que lindo”, ouvi e sorri. E, tive a certeza, que agora sou uma flor feliz.



Um comentário:

Rebeca Rocha disse...

Adorei a narrativa! O tempo todo fiquei imaginando se seria uma criança, um filhote, alguém desconhecido... era uma flor. Instigante do início ao fim, e muito sensivel. Parabéns! :)