sábado, novembro 08, 2008

Mestre

Ela estava ali, quieta, fazia a leitura de algo em uma concentração quase que meditacional. Ficava ao centro, na frente, sozinha, absorta em seu mundo.
Ali, rodeada de óculos pendentes da platéia acadêmica, exercia o seu ofício. Ensinava, não apenas para preencher o cabedal de seus pupilos, mas também dava lições de vida.
O sinal da sua presença, não física, pois estava ali, mas sua presença mental, eram as rugas que apareciam na testa vez ou outra, não sei precisar ao certo, se de espanto ou de admiração pelo que lia.
Porém ela não imaginava o quanto aquelas expressões faciais causavam medo em seus pupilos. O seu olhar imponente por entre os óculos postos na ponta da narina amedrontava aqueles que não a conheciam. Tinha um jeito singular de ajeitar as madeixas, passando os dedos pelas mechas frontais passando pelo centro da cabeça, dando um leve balançar, como se coçasse, na nuca.
Essa sua altivez dividia a turma em dois polos: os que a amavam e os que a odiavam.
Fazia o tipo que jamais conseguiria a unanimidade.
Apesar disso tudo, parecia faltar algo na essência dessa criatura. Tão doce, tão amarga. Representava uma verdadeira oscilação de emoções.
Seria a falta de um amor? Ou seria a presença de um amor não correspondido.
Não sei, a única coisa que posso informar é que ela fazia do lecionar sua vida. Não sei se por prazer, ou se por carência.
E assim vivia, entre o silêncio dos olhares aprendizes e as vozes dos amigos mestres.

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