sexta-feira, agosto 28, 2009

Sobre o narcisismo

Eu conheço um homem, um senhor já chegando na melhor idade (adoro, pra não dizer outra coisa, esses eufemismos empregnados pelo governo federal).
O nome dele é Narciso, mas o narcismo dele é estranho.
Nunca soube que ele tentou se matar brigando com o reflexo da sua imagem num lago.
Mas o que eu vejo, nos dias que ele trabalha na portaria do meu condomínio, é outra coisa.
É sinistro, velho. (Como diz a gíria)
Ele tem uma coisa que os outros porteiros não tem.
Seu Narciso, como é conhecido, é tão dele que tem autoridade de não chamar morador de senhor.
Passar na portaria, seja tarde ou seja dia, e receber o bom dia.
Não tem cristão, budista, ou até mesmo ateu, que não ganhe o dia.
Ah!
Ia esquecendo de falar da estranhice que seu Narciso tem.
Talvez seja o único, além do sindico, que sabe o nome de todos os moradores...
Mas ainda não é isso que o deixa estranho.
Ele tem uma mania, ele olha nos olhos.
O narcisimo dele não está em se bater num lago brigando consigo próprio, mas em se ver refletido nos olhos do outro.
Infelizmente, ainda tem gente que não aguenta.
Mas tenho certeza de uma coisa, na minha visão de crédulo lúcido, seu narciso é a simpatia personificada.

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