terça-feira, abril 22, 2008

sonho de menino


Madrugada do dia 5 de fevereiro de 2007, um sábado. Rolo de um lado para o outro da cama tentando dormir e o sono não chega. Os ponteiros iluminados do relógio marcam 3 horas. Ansioso, decido levantar, acendo a luminária do criado-mudo, sento à beira da cama e penso no que poderia cessar minha ansiedade.
Abro o armário e procuro minha caixa de recordações, onde guardo cartas, cartões, presentes e lembranças de amigos. Em meio às minhas memórias encontro uma fotografia da infância: sorriso largo, braços abertos como esperando um abraço e ao fundo os arcos azuis da orla de Atalaia. Com o olhar fixo na foto devaneio: tinha por volta dos seis anos, um dia de domingo em Japoatã - desses domingos que não se tem algo para fazer em casa – quando recebemos a visita de dona Gizelda (madrinha da minha mãe). Ela ia à cidade de Neopólis visitar parentes, e antes passou em Japoatã para nos visitar. Entre uma conversa e outra ela brinca e me chama para passar uma semana na casa dela em Aracaju. Peguei uma das suas sacolas e escondi no meu quarto, afinal, eu queria uma garantia de que ela passaria para me pegar.
Minha mãe hesitou por causa da pouca idade que eu tinha, mas dona Gizelda disse que não haveria problema e,se eu quisesse voltar ela me traria. Saímos com destino à Aracaju no mesmo dia, fim de tarde.
Durante a viagem perguntei a ela: “Como é a cidade grande?”, “Como é morar na capital?”, “O que verei lá?”, “Para onde vamos?”, “O que faremos nessa semana?”. Ela respondeu simplesmente: “Você vai gostar de lá”.
Chegamos à noite, a cidade iluminada pelas luzes dos carros enfileirados em um congestionamento – que eu o desconhecia. O brilho dos faróis refletia em meus olhos que observavam atônito aos detalhes que aquele mundo proporcionava.
Mas tinha algo que me chamava atenção: as pessoas apressadas, não se importavam com a vida alheia, isso me atraía. Pois japoatã é uma cidade pirulito, dessas que você entra, dá a volta na praça da Igreja Matriz e sai pela mesma rua que entrou. Sua vida é alvo fácil.
Durante essa semana fizemos vários passeios: fui ao shopping Riomar com Ceiça – filha de dona Gizelda , fomos ver a pista de patinação no gelo, fiquei estático observando o povo deslizando sobre o gelo. Fomos também ao parque, à praia.
Enfim, uma semana de férias, uma semana apenas me fez apaixonar por Aracaju.
Contava os meses para chegar o mês de janeiro e ficar um mês de férias lá. Foi assim durante toda a infância. Na adolescência não negava minha paixão a ninguém. Uma vez eu ia passando e minha prima falou para uma amiga: “Não sei como vocês suportam José, ele só fala de Aracaju, não tenho saco para ele.” Pedia sempre a minha mãe para me deixar estudar lá, ela respondia que não tinha condições de me manter lá, já que pagava a faculdade de meu irmão mais velho, e que se eu quisesse esperasse terminar o ensino médio (os três anos mais longos da minha vida).
Ouço umas batidas na porta do meu quarto e volto à realidade, olho para o relógio, já são seis horas da matina, minha mãe abre a porta e diz:
“Vamos terminar de arrumar sua bagagem.”
E, tomado por essas lembranças, ajeito cada detalhe para a viagem. Arrumo a mala, ponho cada peça de roupa com o sorriso de canto a canto da boca.
Hoje, depois de muita paciência, o sonho se torna realidade. Vou morar em Aracaju, na casa de dona Gizelda, a mesma que despertou em mim essa paixão.
Entro no carro, não tenho idéia do que pode acontecer.
P.S.: Primeiro texto para universidade.

Um comentário:

ಌ Debbynha ಌ disse...

O primeiro texto brilhante de uma mente brilhante...

x)

Você nasceu para brilhar Zeh e eu vou sempre torcer por vc...

s2

;*