quarta-feira, julho 08, 2009

Capítulo Primeiro - O despertar

No quarto, Lucas, despertou. A luz solar entrava pela brecha da janela que a cortina branca não conseguira cobrir. Com um raio de sol em sua face, abre, como se com o abrir dos olhos viesse o despertar, mas não um despertar qualquer, mas um despertar para a realidade. Com a claridade incômoda, de súbito, esconde os olhos com as mãos em concha.

Olha por entre os espaços formados pelos dedos entrelaçados para que se acostumasse com aquela invasão. Abre os olhos e fica por um tempo a admirar o forro de madeira do seu quarto. Observando os detalhes daquele cenário tão íntimo aos seus olhos ele levanta, espreguiça-se, elevando os braços o máximo que pode enquanto se equilibra na ponta dos pés. Queria acordar o corpo, para que mais um dia fosse vivido.

Esse era seu maior desafio: viver um dia de cada vez. Consegui-lo-ia? Essa pergunta não cabe apenas a Lucas, mas a todo coração pulsante e mente vivente nesse planeta que batizaram Terra. Mas como é que se vive um dia de cada vez? É essa dúvida que angustia Lucas:

“ Será que conseguirei viver o amanhã?”

Com a vida, ele aprendeu que não se espera pelo que não se tem nas mãos. Mas o que é que se tem nas mãos? A única coisa que se tem nas mãos é o instante, o agora. Desta forma, a angústia de Lucas aumenta. Ele não tem nem certeza se viverá o dia de hoje totalmente.

As reflexões matinais de um jovem solitário, sãos as reflexões de um ser que espera, que conta cada segundo para que chegue o momento de se sentir amado. Mas ele não tinha amor? Não tinha, ele tem, tem apenas o amor próprio. Mas, este não é suficiente, não para ele, chega uma hora que o corpo, a mente, o coração; precisa movimentar-se, pensar, bater por alguém que não seja apenas nós mesmos. Não há egoísmo que supere essa necessidade humana que é o relacionamento.

Com os braços ainda elevados, Lucas olha mais uma vez para o teto, entretanto, desta vez era o céu que ele visualizava. Agradecia, ele não sabe a quem, mas faz desse agradecimento matinal, a cada despertar, um exercício de fé. Esta fé ele jamais nomeou, mas acreditava que este agradecer era uma forma de estar bem consigo. Será que esse agradecimento seria a ele próprio? Talvez, todo ser humano se acha um pouco deus. Isto lhe fazia bem, é o que importa. Agradecia, a cada despertar da aurora, pelo dia que passou e pelo dia que estava por vir.

Solta os braços bruscamente fazendo do barulho do choque, entre mãos e corpo, o sinal de alerta que o dia deveria começar. Abre as cortinas, e a claridade irradia, apreciava sentir o calorzinho do sol às manhãs.

Rituais feitos, falta o que mais lhe agrada: os encontros com o mar nas manhãs ensolaradas. A aparente infinitude do oceano remete a alguém, que ele ainda não o conhece, mas que sabe da existência e do quanto especial será.

Lucas faz do mar extensão do ser amado. Ele sabe que é capaz de perder-se na beleza e na imensidão das águas marinhas, mas já que nesta vida ele só tem o instante, e não tem certeza se o próximo instante existirá, ele faz versos, versos em frente ao mar.

Pode até parecer desperdício, desperdício de amor, de vida. Mas a felicidade de alguns, às vezes, está na espera.

Enquanto o amor não vem, desperto, ele ama o mar. E o céu também.

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