quarta-feira, julho 08, 2009

Capítulo terceiro - O sonhar

Lucas chega em casa, põe um disco na eletrola. Seus pensamentos sobre a falta de um amor atormentam seu sono. Sempre quis ter alguém que lhe esperasse quando chegasse ao lar. Seria essa espera infundada? Ele prefere acreditar que não. Os dias que se passam na sua existência, são dias de espera. A espera, esta cruel companheira.

Apaga as luzes, o quarto fica na penumbra. Ouve-se apenas uma canção quase que monossilábica. Deitado em sua cama, a música soa como um cântico de ninar bebê. E, embalado pela melodia, seus olhos se fecham, em sua face os músculos relaxados dão a impressão de um êxtase de meditação.

Mexe-se para um lado mexe-se para outro, buscando o conforto. Deitado em posição fetal, Lucas adormece.

É um dia de verão. Lucas anda tranquilamente pela praia. Anda horas a fio, não há sinais de civilização perto do local. Segue andando à beira-mar, olhando por entre as ondas os contrastes existentes entre os vários tons de azul no oceano. Anda, anda, anda... em sua frente visualiza apenas a faixa de areia ralinha. Insistentemente, continua sua caminhada, não sabe aonde isso o levará, mas segue. Segue na esperança de que algo bom pode esperá-lo.

Há em seu intimo a sensação de que o tempo parece não mais existir. Quando ao longe vê algo. Ele segue ao encontro do que viu.

Um espaço mais ou menos do tamanho do seu quarto, feito de quatro colunas de madeira de mogno, as paredes são feitas de vidro, há apenas uma porta, em seu interior existem cortinas brancas de uma renda tão delicada que lembram véus. Seria aquilo um templo? Lucas não consegue identificar. Para por alguns instantes em frente à única porta existente. A arquitetura simples instigou sua curiosidade em conhecer o interior daquele local que jamais vira antes.

Entra, o chão é revestido por um tapete vermelho, e muitas almofadas de tecidos de cetim de cor branca, as cortinas alvas contrastam com o azul celestial. Olha, cuidadosamente, girando em torno de si, a falta de detalhes do local. Quem fizera aquilo? – pensa. Dessa pergunta ele não teria respostas.

Impulsionado pelo cansaço da longa caminhada, deita-se. Neste momento alguém entra. Senta-se ao lado da cabeça de Lucas, pega-a cuidadosamente e põe em seu colo. Acaricia cada pedacinho da face dele. Alisa os cabelos, fazendo cafuné. Lucas sente-se amado.

De súbito, Lucas tenta acariciar também a face do ser desconhecido que lhe dava carinho, não consegue, o ser esquiva-se, sem lhe mostrar suas expressões, ou algo que pudesse identificá-lo. Quem seria aquela figura mágica que surgira do nada, lhe dava carinho e não se mostrara? – esse pensamento atormentava. Ele não insiste.

O ser desconhecido tira a cabeça de Lucas do seu colo, ajeita confortavelmente como estava antes. Levanta-se e sai. Lucas tenta segui-lo com os olhos; não consegue, algo o repelia de olhá-lo.

No quarto, o som para de tocar, e movido pelo silêncio Lucas acorda. Em um gesto de reconhecimento do local onde estava, procura saber onde sua cabeça estava apoiada. Existia apenas o travesseiro.

Teria ele sido amado?

Em sonho, talvez.

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