quarta-feira, julho 08, 2009

Capítulo quarto - O adoecer

Em meio às oscilações de temperatura, entre dias chuvosos e ensolarados Lucas adoece. Aconteceu o que ele mais temia: adoecer e não ter quem cuidar dele. Numa madrugada chuvosa, Lucas dorme tranquilamente. Por volta das quatro horas da manhã, os tremores causados pelo frio o desperta.
Por que não tinha alguém para cobrir-lhe enquanto dormia? Será que um dia alguém vigiaria seu sono? Esse era algumas das perguntas sem respostas concretas que Lucas insiste em querer saber. A queda da temperatura externa fizera a temperatura do corpo subir. Respiração compassada, ar quente saindo das narinas, indicavam que a febre estava num estágio mais elevado que se espera.
Como gostaria que alguém lhe mimasse. Mas a realidade era outra. Com dificuldade, devido a moleza corporal, levanta. Vai ao banheiro, olha-se no espelho, assusta-se com a face pálida e os olhos caídos. Ele reconhecera que não estava bem. Abre a torneira, ouve por um instante o barulho da água, faz das mãos unidas uma concha, enche-a com a água que corre, lava a face para despertar do sono. Na tentativa de melhorar o semblante dá umas tapinhas nas bochechas, que ficam coradas. Encara-se no espelho e sorri. Sorri para si, na tentativa de acreditar que tudo ficaria bem. Nisso ele não acreditava.
Sai do banheiro, vai para a cozinha. Enquanto prepara um chá, perde-se em devaneios:
“Não tinha experimentado antes a solidão. Mas dessa vez a solidão da qual falo não é a solidão de amor, mas a solidão no sentido literal da palavra. A fragilidade que a doença nos impõe atormenta. Agora o que eu mais necessito é de um colo. Percebo que está sozinho no mundo não é tarefa fácil. Será que isso são escolhas minhas? Não sei responder. Se forem, tenho de agüentar as conseqüências dos meus desígnios. Se não forem, teria eu como muda-las?”
Volta para o quarto com uma xícara na mão. Toma o chá. Põe a xícara no canto da cama. Deita. E, sem carinho, tenta dormir. Tenta.

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