quarta-feira, julho 08, 2009

Capítulo Segundo - A esperança

É uma noite chuvosa de outono. Após passar a tarde na rua, Lucas sacia sua solidão ouvindo o barulho da chuva bater em sua janela. Deu-se ao luxo de ir ao cinema sozinho. Acompanhado apenas de sua consciência. Esta é sua fiel companheira. Não apenas o acompanha nos dias de visita ao mar, mas nunca o abandonara. Com ela, ele sabia que poderia contar a hora que fosse. Afinal de contas, não há como fugir de si próprio.
Em seu refúgio, vive o prazer de ter consigo a esperança. Mas esperar para quê? Seria válida essa espera? Lucas não sabia responder. Ainda não sabe muita coisa sobre a espera. Mas insiste em querer aprender sobre o amor.
Queria saber se o amor acontecia naturalmente ou se ele se constrói. E se esse tal amor não existir? “Não, eu não suportaria viver uma vida sem amor, nele, ainda acredito. Apesar de ele insistir em não querer aparecer. Desta forma, chego a acreditar que o amor tem vontade própria. Mas será que ele tem vontade própria? Nossa! Agora fiquei em dúvida. As convenções sociais me levam a crer que ele, talvez, nem exista. Uma vez me disseram que este tal amor é uma convenção que a sociedade inventou para fazerem sexo, e completaram: não acredito no amor, acredito no sexo, o sexo é prático, não tem desgaste emocional, e no final de tudo você ainda goza.” – Pensa.
Lucas era sensível demais, jamais seu espírito idealista permitira acreditar que sexo vale mais que amor. Apesar de tê-lo feito algumas vezes. Sem amor, é óbvio. Mas por quê? A carência de afeto o levou a acreditar que era carência de sexo.
No seu quarto, enquanto a chuva cai, pensa na possibilidade de um dia compartilhar sua cama com alguém, e ter entre suas pernas algo que não fosse seu travesseiro. Mas, as pernas do ser que almeja ter.
“Onde estará?” – sua voz sussurrada revela seu pensamento.
Isso era o que ele mais quer, e precisa, descobrir. Talvez só assim ele aquietasse sua alma. A inquietude da espera o fazia triste. Poucos foram os que conseguiram ouvir sua voz. Ele dificilmente se revelava. Para quê, se não tinha a certeza de que estaria se expondo em excesso? Enfim.
Cansado de seus questionamentos, Lucas afasta a cortina, abre a janela, põe a cabeça para fora, e deixa que os pingos fortes da chuva molhem sua cabeça. Queria ele que a água pudesse purificar sua mente. Mais? Um ser que pensa em amor 24 horas por dia, querer ser mais puro que isso? Só na cabeça de um idealista isso seria possível. Na dele, seria possível, por isso fizera.
Ele molhava a cabeça, mas na verdade o que ele queria mesmo, era pular pela janela. Mas não, ele não teria coragem. Jamais causaria algum mal a si. Afinal, o que ele não queria era morrer sem ter amado, algo que não fosse o mar. “Não!” - gritou. Um grito do âmago. Um grito de socorro. Socorro para que alguém lhe tirasse da solidão de ter apenas o amor próprio. Isso é satisfatório, para alguns, para ele não. Sua necessidade vai além de uma admiração narcisista em frente ao espelho.
Debruçado na janela vê que da terra que a água molha a semente vira algo. Ele também era semente. Acreditava nisso. Não teria a coragem e ousadia de se lançar a terra e ser apenas mais uma semente infértil. Levanta. Olha a janela. Observa a chuva. Sente o cheiro da terra. Respira profundamente, como se fosse o sopro de vida criacional. Joga-se na cama e dorme. Dormir é fuga. Então, ele fugiu. De si? Não. Do amor, talvez.

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